quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Parque no Inverno


É inverno; contudo, vêem-se flores por toda parte. Por que não? Estamos afinal nos trópicos, onde 'inverno' é só um apelido para a estação seca, e onde há flores o ano todo.

Ao longo da grade do parque floriem lindas primaveras, brancas, douradas, vermelho vinho. Dentro, o grande ipê, que durante breves dias vestiu-se em glória cor de rosa, estende agora humilde e generoso um tapete de flores para os que passam a seus pés. O cipó-de-são-joão, ajudado por árvores amigas que o sustentam, enfeita-as derramando-se em cascatas de florinhas cor de laranja; e as altas quaresmeiras começam a espargir o caminho com a púrpura de suas pétalas.

Não longe delas, no jardim defronte a uma das belas e antigas construções do parque, há três pequenas árvores nuas. Têm talvez apenas a altura de um homem. Na ponta de seus galhos mirrados restaram umas poucas folhas, secas, retorcidas, que não tiveram nem força para cair ao chão.

São três pequenos carvalhos. Noutras terras seriam altos, grandes, majestosos; aqui, não se desenvolveram. Jamais se desenvolverão. Como o poderiam? Lá no seu âmago, roi-os uma incurável saudade: a das neves no inverno, do renascer das primaveras, dum bosque onde agora é verdejante verão. Eles nunca conheceram nada disso; mas sem saber trazem a lembrança em si, e essa falta é o que os impede de crescer. Em meio às flores coloridas, e às vetustas árvores copadas, serão sempre pequenos e sem vigor.

Pobres carvalhos exilados! Pobres homens! Quantos de nós não somos como eles, dia a dia definhando, pela falta de algo ou de alguém de quem lembramos sem contudo o perceber?

Um comentário:

  1. Mana querida, tu sabes que serei tua eterna admiradora! Esse texto é lindo e tem significado especial para mim. Obrigada!

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